O livro nos apresenta uma civilização
pós-apocalíptica que sobreviveu a vários ataques nucleares, não existe nada
além da ‘cidade’ onde vivem. Chamo de ‘cidade’, mas é como uma colônia, eles
vivem em um gigantesco pico construído, acima das nuvens, onde não correm o
risco de se contaminarem com a radiação. A autora faz uma boa introdução,
explicando quase todos os detalhes dessa comunidade e como eles vivem.
É uma sociedade monocromática, todos os cidadãos
enxergam apenas preto e branco por conta de uma medicação que tomam todos os
dias ao saírem de casa. Essa droga não só os faz enxergarem tudo preto e branco,
como também os impede de sentir desejo por outras pessoas, ou qualquer outro
tipo de sentimento. Nessa sociedade ninguém sente dor, tristeza, mágoa, raiva.
Mas ai que vem o ponto forte, pois não ter sentimentos ruins é bom, mas também
ninguém sente nada bom, ninguém nessa sociedade sente amor, alegria, ternura,
etc... Nessa sociedade não existe mentira, todos devem dizer a verdade. Não
existe, crime, doença, pobreza e nem mesmo música. Todos são monitorados, tudo
é organizado, tudo é programado.
O livro é narrado em terceira pessoa e aborda a
perspectiva de Jonas, um menino prestes há completar doze anos, e com isso ele
será um DOZE, o que quer dizer que terá sua profissão escolhida e participará
do último evento da maioridade. Para eles não importa os anos que vem depois
dos 12 anos.
O mundo que o garoto vive é perfeito, mas ele nem
imagina que já existiu um mundo com pobreza, com roubos, mortes, guerras. Nessa
sociedade ninguém tem o direito de guardar recordações. Quando a sociedade foi
criada, a memória de todos foi apagada, ou melhor, somente uma pessoa possui
todas as antigas memórias desse mundo, somente essa pessoa conhece o que é
música, o que é amor, o que é felicidade, o som dos animais, tudo. Ele conhece
tudo, ele é o Guardião de Memórias. Mas ele já está velho e precisa de um jovem
que o substitua.
E ai a história se inicia. Jonas vai até uma
cerimônia onde cada criança que completou seus doze anos recebe sua profissão,
onde trabalhará para sempre, pela comunidade. Como não existe relação entre as
pessoas, mulheres recebem a profissão de serem genitoras de todas as crianças
da comunidade. Caso nasçam gêmeos, aquele mais pesado vai viver e o mais leve é
levado para outra comunidade. É isso o que é dito as pessoas quando outras
pessoas morrem, que elas vão para outra comunidade. Assim não existe dor nem
desespero.
Apesar de não existir ralação entre as pessoas,
quando atingem determinada idade, são escolhidos um homem e uma mulher para
formarem uma família, eles não dormem juntos, nem mesmo se tocam, mas são
responsáveis por criarem uma criança que lhe é entregue. E a criança os chama
de pai e mãe.
Na cerimônia de escolha de profissão, Jonas é o
último a ser chamado e ele recebe a maior missão de todas, ser o novo guardião
de memórias. Ele vai receber todas as memórias do antigo guardião. Ele será o
receptor, e o guardião passará a ser o Doador de Memórias.
O livro toma um pouco de fantasia, pois o guardião
consegue transferir as memórias para Jonas, através do toque de mãos. Quando o
guardião pensa na memória e segura na mão de Jonas, as memórias são passadas ao
garoto. Tudo vai muito bem. Jonas fica fascinado com todas aquelas novas
experiências. Ele passa a enxergar colorido, ouvir belíssimas músicas, que lhe
dão um bem estar maravilhoso. Ele passa a conhecer todos os animais que
existiram. Ele conhece a dança, o sabor de uma fruta, o calor de abraço. Tudo
aquilo é muito maravilhoso e ele então começa a questionar com o guardião,
porque não mostram todas aquelas memórias para todas as pessoas. São sensações
que todos deveriam experimentar. No que o guardião lhe mostra outra memória, a
cena de uma guerra, homens matando homens, tiros, explosões, fome, dor,
miséria. E então o guardião lhe explica que por conta da dor, eles também
deixaram de sentir amor. Pois um sentimento bom, se não correspondido pode
causar a dor, então foi preciso acabar com tudo.
Jonas não concorda com isso, ele acredita que
sentir dor valeria à pena, pelo fato de poderem experimentar o amor. No que o
guardião lhe diz que, caso ele não conte a ninguém, ele sabe um modo de fazer
todos receberem essas memórias.
Então eles montam um plano, para que todas as
memórias sejam distribuídas entre todas as pessoas da comunidade. Para que
todos experimentem aquelas sensações, para que tudo volte a ser como era antes.
Para isso, Jonas precisa romper a barreira que separa a comunidade do mundo que
há muito tempo deixou de existir.
Eu achei uma explicação um pouco ruim no livro,
esse fato de ter de romper a barreira da cidade para que as memórias fossem
espalhadas para todos, mas depois eu compreendi a idéia da autora. É uma
metáfora, as barreiras da sociedade, representam um muro que aprisiona todos os
habitantes na ignorância, no sistema e essas memórias, que representam o
conhecimento, precisam romper a barreira da ignorância.
No fim do livro, acontece uma cena de ação, onde
tentam impedir Jonas de atravessar a barreira da comunidade. Mas ele acaba
conseguindo atravessá-la e todos os habitantes passam a compreender o mundo
como ele é. Com cor, com som, com sabor, com sentimento, com conhecimento, com
liberdade.
CONSIDERAÇÕES:
Mais uma vez essa história faz analogia à teoria da
caverna de Platão. Onde as pessoas são os homens aprisionados na caverna, Jonas
é o homem que consegue romper as correntes e volta para libertar os outros e o
Guardião de Memórias representa a própria filosofia. Ele detém todo o
conhecimento e verdade.
REFERÊNCIAS:
Lowry, Lois. The
Giver 1993. Publicado no Brasil em
2009 pela editora Arqueiro, com o título ‘O Doador de Memórias’, tradução de
Maria Luiza Newlands. 1ª Edição.
R.S.Boning
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